A copaíba (Copaifera officinalis) faz parte do conjunto de árvores que compõem a elevada copa amazônica, esse vasto topo de floresta que culmina em dezenas de metros de altura.
Na língua tupi-guarani, o termo copaíba significa a árvore e sua resina e o termo copaibeira designa a majestosa árvore de 20 a 40 metros de altura com suas belas flores brancas que desabrocham nas alturas e cuja resina é exsudada naturalmente (ou por perfuração).
Trata-se de uma árvore sui generis, que não se cultiva, já que seria necessário esperarar aproximadamente 70 anos para que possa ser explorada. Por isso a importância de que a exploração do bálsamo de copaíba seja feita de maneira sustentável, levando em conta a interdependência do homem e da natureza, particularmente nessa região do globo onde o desflorestamento predomina.
A copaíba produz uma resina preciosa e cujo óleo essencial possui virtudes medicinais múltiplas : anti-inflamatórias, analgésicas e cicatrizantes. O bálsamo de copaíba vêm sendo utilizado pelos povos indígenas da Amazônia para curar feridas há séculos, graças a constatação empírica desses povos que observavam os animais feridos se esfregarem no tronco das copaibeiras.
O bálsamo de copaíba integrava as prateleiras das farmácias européias desde o século XVII, onde era considerada uma verdadeira panaceia. Nas palavras de Padre Labat, importante missionário dominicano, colonizador e escravista francês do século XVII, o bálsamo de copaíba é “maravilhoso para fechar rapidamente todo o tipo de feridas causadas pelo ferro, madeira, quedas e outros acidentes.”
Ainda no século XVII, Vicente Rodrigues Palha relata em sua obra História do Brasil que a resina da copaíba pode curar qualquer ferida, principalmente as feridas expostas, de tal maneira que faz desaparecer até a cicatriz. Com o advento dos antibióticos no século XX sua presença foi banida das farmácias européias.
Não se deve confundir o bálsamo de copaíba com o óleo essencial de copaíba. O bálsamo possui um perfume amadeirado, uma cor alaranjada, límpida, viscosa e rica em óleos essenciais e em ácidos graxos (ácido linoleico e oleico), enquanto o óleo essencial é mais líquido e com odor mais sutil e mais complexo, além de ser muito mais concentrado em beta-cariofileno, sesquiterpeno com grande poder anti-inflamatório.
Perfil aromático do óleo essencial de copaíba
Suas notas amadeiradas, balsâmicas, aromáticas e cremosas, levemente defumadas e picantes vem seduzindo os perfumistas. As notas amadeiradas do óleo essencial são mais suaves que a do cedro virgínia e suas notas cremosas possuem reminiscências de sândalo. Já o óleo essencial de copaíba retificado possui notas mais abaunilhadas.
As notas da copaíba conferem densidade às fragrâncias e podem ser combinadas combinadas com uma miríade de acordes - verde, frutados, cítrico, gourmand, licoroso, resinoso, etc; -, além de ser um precioso ingrediente na reconstituição dos acordes de sândalo.
Sobre o óleo essencial de copaíba, Steffen Arctander em sua obra "Perfume and Flavor Materials of Natural Origin “, nos diz :
"(...) seu cheiro é similar ao do bálsamo de copaíba , mas muito mais lactônico, adocicado, cremoso-balsâmico e com notas levemente picantes. Possui notas que lembram o álcool furfurílico e cadineno (presente no zimbro), outras que remetem às notas de bálsamo do Peru. Um cheiro muito particular e complexo, porém muito suave." Ainda segundo esse autor, “ o óleo essencial de copaíba combina bem com ylang ylang, heliotropina, hidroxicitronelal, sândalo e aldeído amil cinâmico. O óleo de copaíba é usado em fragrâncias florestais (pinheiro), em bases amadeiradas, perfumes de violeta, fragrâncias especiadas, etc., e seu baixo custo e disponibilidade o torna popular para tais propósitos. (...) Possui notas que lembram o álcool furfurílico e cadineno (presente no zimbro), outras que remetem às notas de bálsamo do Peru. Um cheiro muito particular e complexo, porém muito suave.
Ação sutil do óleo essencial de copaíba
O óleo essencial de copaíba possui 85% de sesquiterpenos em sua composição (B-cariofileno, alfa-humuleno, germacreno-D, beta-bisabolène, entre outros). Esse perfil bioquímico, onde predominam notas de alto peso molecular, faz dele um óleo essencial envolvente e reconfortante. Seu cheiro amadeirado-balsâmico melhora nossas funções cognitivas, nos energiza e promove foco, centramento e paz. O cheiro adocicado e balsâmico da copaíba o torna um excelente remédio para o coração e indica a dimensão espiritual da sua ação terapêutica sutil.
Segundo a visão da Medicina tradicional ayurvédica, os doshas - constituição ayurvédica que engloba os elementos (ar, terra, água, fogo, éter) e suas qualidades - podem ser observados em toda a natureza. Assim, plantas com características predominantemente Kapha, relacionados aos elementos terra e água, se caracterizam por um crescimento luxuriante, folhas abundantes e seiva.
As resinas e a gomas das plantas além de curarem feridas e movimentar o sangue estagnado, são também, devido a sua natureza pegajosa, reconhecidas por dissolverem secreções brônquicas densas, afecções muito comuns em pessoas com o dosha kapha predominante.
Nas plantas, gomas e resinas tem o papel de protegê-las e curá-las. Se transpusermos essa ação em nós, seres humanos, considerando plantas enquanto mestres, essas resinas presentes no reino vegetal podem nos ajudar a curar, além das feridas e afecções físicas, também as feridas psíquicas, emocionais, energéticas.
Nesse sentido, a copaíba parece evocar a sabedoria de um jardineiro contemplativo, conectado com os ritmos da terra ; ela nos ensina que força, respeito e doçura se conjugam ; ela acalma a mente agitada para que possamos experimentar o nosso próprio tempo, nos conduzindo até nossa terra-mãe psíquica.
Conhecedora da magia do tempo, com amorosidade e cuidado para não cutucar nossas feridas nem despertar nossos traumas, ela dissolve nossas resistências internas, prepara as camadas profundas da nossa psique para que novos e promissores recursos internos brotem, no tempo certo, respeitando as estações da alma.
Artigo originalmente publicado em meu perfil linkedin
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