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Olfato e coração

Foto do escritor: Gabriela de França NanniGabriela de França Nanni

“𝗤𝘂𝗮𝗻𝘁𝗼 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝘁𝗲𝗻𝘁𝗮𝗺𝗼𝘀 𝗰𝗼𝗻𝘁𝗿𝗼𝗹𝗮𝗿 𝗼 𝗺𝘂𝗻𝗱𝗼, 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝗼 𝗱𝗲𝗶𝘅𝗮𝗺𝗼𝘀 𝗲𝘀𝗰𝗮𝗽𝗮𝗿” 𝗛𝗮𝗿𝘁𝗺𝘂𝘁 𝗥𝗼𝘀𝗮


Ao ler essa frase lembrei que outro dia minha filha, em um momento de chamego e cumplicidade, me disse: '𝗠𝗮𝗺ã𝗲, 𝗲𝘀𝘀𝗲 𝗽𝗲𝗿𝗳𝘂𝗺𝗲 é 𝗼 𝗾𝘂𝗲 𝘃𝗼𝗰ê 𝘂𝘀𝗮 𝗾𝘂𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗲𝘀𝘁á 𝗻𝗼 𝗕𝗿𝗮𝘀𝗶𝗹’ .


Ao sentir meu pulso, instantaneamente as zonas cerebrais responsáveis pela linguagem se retiraram e ficamos as duas ali abraçadas, em um deleite interior silencioso, corpos em vibração… . . . . O que aconteceu neurocientificamente falando?


Nossos bulbos olfativos, ao captar as moléculas do meu perfume, ativaram a amígdala, zona do cérebro responsável pelo processamento das nossas emoções. E como se tratava de um aroma vinculado emocionalmente às nossas experiências autobiográficas, uma magia se operou: 𝗔 𝗰𝗼𝗻𝗲𝘅ã𝗼 𝗲𝗹𝗲𝘁𝗿𝗼𝗺𝗮𝗴𝗻é𝘁𝗶𝗰𝗮 𝗲𝗻𝘁𝗿𝗲 𝗼 𝗰é𝗿𝗲𝗯𝗿𝗼 𝗲 𝗼 𝗰𝗼𝗿𝗮çã𝗼.


Sim! Quanto mais subjetiva é a nossa experiência com um cheiro, toda essa ativação neuronal é orquestrada por nada menos que ele... 💙💙 o coração!


❏ ❐ ❑ E por quê o corpo vibra, sem que nosso cérebro sequer se dê conta (ler córtex cerebral)? As informações olfativas são captadas pelo bulbo olfativo. Essas informações são convertidas em eletricidade, ativando zonas do cérebro responsáveis pelo aprendizado, emoções, percepção e memória.


Mas com um pequeno porém: Antes de tudo isso acontecer, a informação aromática convertida em eletricidade chega ao hipotálamo, zona do cérebro responsável pela resposta corporal. Lembrando que os outros sentidos são processados pelo tálamo, sendo, portanto, interpretados antes de que o corpo reaja. . . . . Complexo né? 😳 😳


Para sentir, um conselho: deixa o córtex frontal para lá, pega um cheirinho que você gosta e leia essa frase de Kipling : ‘𝗢𝘀 𝗼𝗱𝗼𝗿𝗲𝘀 𝘀ã𝗼 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝗰𝗲𝗿𝘁𝗲𝗶𝗿𝗼𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝗮 𝘃𝗶𝘀ã𝗼 𝗲 𝗼𝘀 𝘀𝗼𝗻𝘀 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗳𝗮𝘇𝗲𝗿 𝗿𝗲𝘀𝘀𝗼𝗮𝗿 𝗮𝘀 𝗮𝘀 𝗰𝗼𝗿𝗱𝗮𝘀 𝗱𝗼 𝗰𝗼𝗿𝗮çã𝗼’


Os teóricos localizacionistas do século XIX defendiam a ideia de que o córtex cerebral, ao evoluir, havia escondido o bulbo olfativo para dar lugar ao livre arbítrio. E Kant, nos idos do século XVIII, já dizia que o sentido do olfato depreciava o ser humano. De fato, o sentido do olfato é o sentido que mais foge ao nosso controle, já que é no hipotálamo que a obstinada informação chega primeiro. 𝗣𝗼𝗿é𝗺, é 𝗼 𝘀𝗲𝗻𝘁𝗶𝗱𝗼 𝗾𝘂𝗲 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝗻𝗼𝘀 𝗲𝗻𝘀𝗶𝗻𝗮 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗮𝗰𝗲𝗶𝘁𝗮çã𝗼, 𝗽𝗿𝗲𝘀𝗲𝗻ç𝗮, 𝗰𝗼𝗻𝗲𝘅ã𝗼 𝗲 𝗰𝗼𝗻𝘁𝗲𝗻𝘁𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼.


Tenho cá para mim que somos todos feiticeiros farejadores e que não é por acaso que a revolução industrial quis nos privar tanto dos odores, asseptizando tudo, tornando inodoros os espaços.


Com o florescimento das pesquisas sobre olfato,, já se sabe que o bulbo olfativo, apesar de representar apenas 0.01% de toda a massa cerebral, nos permite, através da respiração nasal, acessar zonas importantes para a cognição e a memória.


𝗔 𝗰𝗲𝗿𝗲𝗷𝗮 𝗱𝗼 𝗯𝗼𝗹𝗼?


Ao acrescentar aromas ao nosso sentido olfativo tornamos a respiração mais consciente e ativamos estruturas cerebrais importantes como o hipocampo, a amígdala e o córtex frontal se ativem e se reorganizem (reorganização neuronal).


C𝗶𝗲𝗻𝘁𝗶𝘀𝘁𝗮𝘀 𝗼𝗯𝘀𝗲𝗿𝘃𝗮𝗿𝗮𝗺 𝗾𝘂𝗲 𝗼 𝗺𝗼𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗲𝗺 𝗾𝘂𝗲 𝘁𝗲𝗺𝗼𝘀 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝗿𝗲𝗰𝘂𝗿𝘀𝗼𝘀 𝗻𝗲𝘂𝗿𝗼𝗻𝗮𝗶𝘀 𝗿𝗲𝘀𝗽𝗼𝗻𝘀á𝘃𝗲𝗶𝘀 𝗽𝗼𝗿 𝗰𝗼𝗱𝗶𝗳𝗶𝗰𝗮𝗿 𝗲 𝗿𝗲𝗰𝘂𝗽𝗲𝗿𝗮𝗿 𝘂𝗺𝗮 𝗹𝗲𝗺𝗯𝗿𝗮𝗻ç𝗮 é 𝗱𝘂𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲 𝗮 𝗶𝗻𝘀𝗽𝗶𝗿𝗮çã𝗼 𝗻𝗮𝘀𝗮𝗹.


O sentido do olfato também favorece a neurogênese hipocampal ( geração de neurônios e circuitos no hipocampo). Lembrando que o hipocampo, zona do cérebro responsável pela memória, se encontra atrofiado nas diferentes formas de demência.


𝗧𝗿𝗼𝗰𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗲𝗺 𝗺𝗶ú𝗱𝗼𝘀:


Cheirar favorece a plasticidade neuronal, a cognição e nos torna mais inteligentes emocionalmente. E a medicina preventiva agradece!


Assim sendo, celebremos o sentido do olfato e deixemos ressoar as cordas do coração!



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